Por Dentro da Lei

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5 de janeiro de 2013

Estupro na Índia e a posição dos advogados





O debate levanta duas questões importantes, sobre o reflexo moral de um crime e sobre as relações entre este e o direito de defesa. 

Para que um Estado de Direito seja garantido em suas estruturas, a defesa não pode ser analisada sob a perspectiva moral. Não porque direito e moral não dialoguem, mas porque o direito subjetivo de defesa forma junto com outros princípios a base estrutural da democracia moderna.

Como princípio, a defesa é reconhecida "universalmente" como valor, sempre tendo em vista uma democracia. Já o quadro moral, apesar de possuir obviamente princípios, no Estado de Direito, não alimenta os seus alicerces mas somente a dinâmica social (por isso existem discussões sobre aborto, uniões homoafetivas etc).

O Estado de direito, sendo plural, não reconhece um quadro moral fechado como legítimo. Obviamente matar alguém e, principalmente nas condições odiosas desse crime, é visto praticamente de forma universal como "errado".

E aqui se centra a raiz da pergunta: apesar de ser moralmente "errado", no Estado Democrático de Direito, pode deixar-se o agente não exercer o direito de defesa? A resposta é negativa. O direito de defesa tem de ser respeitado. Note-se nesse caso que os advogados não se apresentaram, mas os acusados serão defendidos pela defensoria pública, como noticia a matéria.

E aqui há outro aspecto. Pode a Índia ser considerada um Estado de Direito democrático nos moldes pregados globalmente quando ainda se sustenta sob uma dinâmica social de castas? Se a resposta for negativa, a atitude dos advogados é muito mais profunda, pois eles não estariam simplesmente fazendo juízos morais.

Ao negar colaboração ao direito de defesa, estariam questionando a estrutura democrática de seu país, que possibilita o incompreensível e brutal ato de se afrontar contra a liberdade e a vida de uma mulher, tida, conforme divulgado, como um ser social menor a ponto de ser vilipendiada de forma visceral, violenta e mortal em sua dignidade e existência.

Com este gesto os advogados indianos questionam outro princípio, o da dignidade e o valor da vida humana, principalmente a do gênero feminino.




Leia a matéria na Folha de São Paulo


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