A arte, mesmo singela, pode nos provocar reflexão. Explico: comecei a assistir uma série alemã, chamada “Assassino Zen” (Achtsam Morden). A história tem por personagem um advogado criminal, em crise com a família e desanimado com sua prática profissional.
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| Assassino Zen |
Já no primeiro episódio, a esposa do advogado demanda que ele tome uma medida para melhorar sua relação com a filha pequena. E ela mesmo o aconselha a entrar num curso de “Achtsamkeit”, que significa “atenção plena”, ou “mindfulness”, como é mais conhecida. Após relutar, o advogado cede e vai ao consultório do orientador.
Como uma das primeiras lições, o orientador diz ao advogado que o vai ensinar a respirar. E aqui o destaque: durante a cena em que o orientador vai ensinar ao advogado a respiração, no momento em que este mesmo orientador fala, aparece na tela a palavra “atem”, que é justamente respiração em alemão.
É interessante, pois “atem” significa também “sopro”, no sentido de “sopro de vida” ou “sopro de Deus para dar a vida”. A respiração, portanto, requisitada pela atenção plena, que demanda a consciência do inspirar e do expirar, seria o movimento que traz à vista a noção de início à própria vida, o sopro de vida, ou seja, a consciência do existir e do estar presente.
O cotidiano nos afasta justamente disto! Dessa exata sensação de se estar presente onde e quando se está.
A sociedade moderna acabou se tornando um espaço do afastamento disso. Nós não estamos mais presentes. Ou estamos nas redes sociais, quando poderíamos (ou deveríamos) estar na realidade. Ou estamos mandando mensagens por aplicativos específicos para pessoas, enquanto estamos na companhia de outras. Cada um de nós acabou por se tornar “o homem que não estava lá” (numa menção ao filme dos irmãos Coen).
E, talvez, muitas vezes, nós deixemos de saber quem somos, porque “não estamos lá”, naquele exato lugar a que fomos lançados e que nos foi permitido viver. Nós não somos mais donos de nossa atenção plena!
